sábado, 22 de agosto de 2009


Show do milhão

Milho usado na comida agora vira combustível. Resultado: uma população mais magra e saudável

por João Pedro Moraleida

Os EUA resolveram dar uma força para melhorar o ar do planeta fabricando álcool combustível. Como efeito colateral, deram um jeito de deixar seus habitantes mais magros. Calma, isso não é papo de maluco. A explicação é que o etanol americano é obtido a partir do milho, simpático grão amarelo que serve de base para toda a alimentação industrializada americana. Ao usar o milho para o combustível, falta na comida. Assim, as pessoas estão ficando mais magras. Explica-se: como está sendo cada vez mais vantajoso para os fazendeiros venderem a safra de milho – inclusive a do Brasil, onde as exportações quase duplicaram em dois anos – para a produção de etanol, há uma falta do cereal para ser vendido como alimento.

“Se você é o que você come, e consome comida industrializada, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do refrigerante, passando pelo ketchup, até as batatas fritas de uma importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão. Na forma de xarope, o milho é usado para adoçar líquidos (como o refrigerante); na forma de amido, como maisena, serve para dar liga a alimentos como nuggets, batatas fritas e salgadinhos. O milho foi o escolhido como bola da vez devido ao seu baixo preço de mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do milho distribuído no mundo.

O documentário King Corn (“O Rei Milho”, sem previsão de estréia no Brasil), lançado em outubro, causou barulho ao mostrar como quase tudo que tem milho na receita é mais calórico. O vilão é o xarope, apontado como um dos responsáveis pelo alto índice de obesidade dos americanos. Quando o milho começou a ficar caro (milhares de mexicanos foram às ruas para protestar contra o aumento da tortilha) e a compulsão pela cultura do milho começou a ser discutida, foram sugeridas dietas “corn-free”. De repente o milho virou vilão. Nem tanto. Se consumido in natura, por exemplo, ele é gostoso e só faz bem.

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